DE TELA A TELA,  CINEVIAGENS

Exposição Coletiva

52 Artistas,  52 Obras inspiradas no Cinema de Animação

Curadoria Elsa Cerqueira

 

 

Nos primórdios não era o Verbo, mas a Imagem… animada. 

Na arqueologia do Cinematógrafo (1895) de Auguste e Louis Lumière encontra-se uma árvore genealógica desmesuradamente complexa e repleta de Instrumentos sérios, como por exemplo, a Lanterna Mágica que, num vai e vem entre o olhar-real e o olhar-desejo, brincam connosco o jogo dialético do real e do ilusório, das significações e ressignificações,  das imagens fixas às imagens esvoaçantes coloridas pela imaginação. Na artesania com que se pintam as placas de vidro e nas obras urdidas por cinquenta e dois artistas para a presente exposição há um rigor filigrânico e um amor visceral e indómito que celebram a Criação.

            A ossatura desta exposição radica no (meu) interesse em divulgar o cinema de animação de cunho autoral e os artistas plásticos que dialogaram com ele, e na interrogação radical que ancorou esta viagem pela Criação: e se as personagens, o argumento, as ações, os sons, os cheiros, os planos e enquadramentos, os espaços e os tempos, os movimentos, voassem da tela (cinematográfica) para a tela (pictórica)?

 

Reinventar os filmes é dar-lhes uma outra anima, atribuindo-lhes outras existências e mundividências. É celebrar  o uno da criação-cinema de animação,  reificada na pluralidade  de  criadores e na diversidade das suas técnicas, como   Abi Feijó, Regina Pessoa, Pedro Serrazina, José Miguel Ribeiro, Mário Gajo de Carvalho, Vasco Sá, David Doutel, Filipe Abranches,  Nuno Amorim, Júlio Alves, Afonso Cruz, Paulo Patrício, Sara Azad, Joana Nogueira, Patrícia Rodrigues, Marina Estela Graça, Marcos Magalhães, Afonso Serpa, Alexandre Siqueira,  Santiago ‘Bou’ Grasso, Jan Švankmajer, Co Hoedeman,  Koji Yamamura, Hayao Miyazaki, Kunio Kato, Dziga Vertov,  Alexander Petrov, Andrey Sushkov, William Joyce, Norman McLaren, Brandon Oldenburg, Maciek Szczerbowski , Chris Lavis, Marjane Satrapi, Vincent Paronnaud,   Ferenc Cakó, Sylvain Chomet, Tim Burton, Isao Takahata,  Andreas Hykade, Camila Kater, Joana Toste, João Fazenda, Bruno Caetano, Alexandra Ramires, Neville Astley,Mark Baker, Phillip Hall, Joris van Hulzen e Georges Méliès (uma transgressão assumida nesta exposição).

Homenagem singela ao ser e à inexorabilidade da condição e essência do(s) Criador(es) na convergência do movimento perpétuo e poético do ato de criação. Reencontros entre criadores. Cumplicidades entre linguagens artísticas. Diálogos entre criações-invenções a partir do cinema de animação. Sim, o artista plástico, tal como o animador-realizador, é um inventor.

Aos inúmeros e talentosos Artistas-Inventores que aceitaram o desafio de fruírem uma das obras fílmicas, reinventando-as, a minha “animada” gratidão.  E porque me desgosta este juízo universal, que para incluir todos os artistas os despersonaliza porque os priva do seu nome  – sem pretender discutir filosoficamente qual a relação entre a linguagem e a essência do homem – é,  para mim, um imperativo ético agradecer a Agostinho Santos, Alexandre Sousa,  Ana Lisa Luças, António Fernandes  Silva,  Bárbara Abrunhosa, Bonioso (Diogo Cardoso), Carolina Monteiro, Catarina Pinto, Cinara Peralta Pisco, Dimitri Diallo,  Dsixp, EF. Sama (Eduardo Sama), Fernando Barros, Filipe Rodrigues, Francisco Mesquita,  Hanez Pelten, Helena Carvalho, Isabel Lhano,   Helena Soares, Hugo Ribeiro, Joana Antunes, Joana Nogueira, Joana Moreira Baldaia, Joana Torgal, João Cardoso, João Taveira, João Teixeira, Jorge Marques, Júlio Cunha, José Faria, José Miguel Pereira, José Miguel Pinto, Karin Somers, Koikys, Manuel A. Silva, Márcia Luças, Nazaré Álvares, PAM (Paulo Ansiães Monteiro),  Patrícia Azevedo, Paula Teixeira, Paulo Araújo, Pedro Sousa Pereira,  Raquel Costa, Ricardo Cabral, Rita Sá, Rui Oliveira, Santiagu (António Santos), Simão Costa, Teresa Silva, Vasco Vidal, Verena Basto, Xosé Villamore.

O meu agradecimento à Câmara Municipal do Marco de Canaveses por acolher a exposição no novíssimo Centro Cultural Emergente, à simpatia e disponibilidade da Rita Guimarães da Divisão de Cultura, Turismo e Associativismo, ao empenhamento e dedicação da Márcia Luças e do Pedro Pontes, sem os quais esta exposição seria apenas uma realidade imaginada.

Finalmente, exercitando a vagabundagem filosófica de tela a tela, desejo-vos uma maravilhosa Cineviagem.

 

 

Texto de Elsa Cerqueira,

Prof. Filosofia. Investigadora.

Vencedora do Global Teacher Prize Portugal 2021